domingo, 8 de abril de 2012

"Vade retro Satana"

Acabei de ler uma  historia narrada por Elio Gaspari em sua coluna de o Globo. Tudo se passa em setembro de 2015, Conta o articulista de o Globo em sua historia fictícia, mas que podeira ocorrer no Brasil . Eleito presidente Demóstenes  reestruturou o programa Bolsa Família, reduzindo-lhe as verbas e criando obstáculos para o acesso aos seus benefícios. Patrocinou projetos reduzindo a maioridade penal para 16 anos, e autorizando a internação compulsória de drogados. Determinou que uma comissão especial expurgue o catálogo de livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação. Segue Gaspari, Eleito presidente da República em novembro do ano passado, Demóstenes Torres chegou ontem a Nova York para abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas. E aí vai, só faltou dizer que nomeo para ministro da educação como portavoz dogoverno Augusto Nunes  e Tio Rei. Enfim, diz Gaspari, quem conhece o tamanho do conto do vigário moralista de Fernando Collor e Jânio Quadros sabe que tudo o que está escrito aí em cima poderia ter acontecido. "Vade retro Satana"

 O presidente Demóstenes em Nova York, por Elio Gaspari

Elio Gaspari, O Globo

Setembro de 2015: Eleito presidente da República em novembro do ano passado, Demóstenes Torres chegou ontem a Nova York para abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas. Reuniu-se com o presidente Barack Obama, de quem cobrou uma política mais agressiva contra os governos de Bolívia, Equador e Venezuela, “controlados por aparelhos partidários que sonham em transformar a América Latina numa nova Cuba”.
Antes de embarcar, Demóstenes abriu uma crise diplomática com o Paraguai, anunciando sua intenção de rever o tratado da hidrelétrica de Itaipu.
O presidente brasileiro assumiu prometendo fazer “a faxina ética de que o país precisa”. Para isso, criou um ministério com superpoderes, entregue ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
Numa reviravolta em relação a suas posições anteriores, o presidente apoiou um projeto que legaliza o jogo no país. Ele reestruturou o programa Bolsa Família, reduzindo-lhe as verbas e criando obstáculos para o acesso aos seus benefícios. Patrocinou projetos reduzindo a maioridade penal para 16 anos, e autorizando a internação compulsória de drogados. Determinou que uma comissão especial expurgue o catálogo de livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação.
Atualmente, percorre o país pedindo a convocação de uma Assembleia Constituinte. A oposição do Partido dos Trabalhadores denuncia a existência de uma aliança entre o presidente e quase todos os grandes meios de comunicação do país.
Ao desembarcar no aeroporto Kennedy, Demóstenes ironizou as críticas à presença de uma jovem assessora na sua comitiva: “Lamentavelmente, ela não é minha amante, porque é linda”.
À noite, o presidente compareceu a um jantar no restaurante Four Seasons, organizado pelo empresário Claudio Abreu, que até março de 2012 dirigia um escritório regional de relações corporativas da empreiteira Delta. Abreu é o atual secretário-executivo da Comissão de Revisão dos Contratos de Grandes Obras, presidida pelo ex-procurador geral Roberto Gurgel.
Chamou atenção na comitiva do presidente o fato de alguns integrantes carregarem celulares habilitados numa loja da Rua 46. Eles são chamados de “Clube do Nextel”.
Em 2012, a carreira do atual presidente foi ameaçada por uma investigação que o associava ao empresário Carlos Augusto Ramos, também conhecido como Carlinhos Cachoeira, marido da ex-mulher do atual senador Wilder Pedro de Morais, que era suplente de Demóstenes.
O trabalho da Polícia Federal foi desqualificado pela Justiça. O assunto foi esquecido quando surgiram as denúncias do BolaGate contra o governo da presidente Dilma Rousseff envolvendo contratos de serviços e engenharia de estádios para a Copa do Mundo cancelada em 2013.
A eleição de campeões da moralidade é um fenômeno comum no Brasil. Em 1959, Jânio Quadros elegeu-se montando uma vassoura. Em 1989, triunfou Fernando Collor de Mello.
O primeiro renunciou numa tentativa de golpe de Estado e terminou seus dias apoquentado por pressões familiares para que revelasse os números de suas contas bancárias no exterior.
O segundo deixou o poder acusado de corrupção e viveu por algum tempo em Miami, elegeu-se senador e apoiou a candidatura de Demóstenes. O tesoureiro de sua campanha foi assassinado.
Presente ao jantar do Four Seasons, o empresário Carlos Augusto Ramos não quis falar à imprensa. Ele hoje lidera o setor da indústria farmacêutica brasileira beneficiado pelos incentivos concedidos no governo anterior. Ramos chegou acompanhado pelo ministro dos Transportes, Marconi Perillo, que governou o estado do presidente e foi o principal articulador do apoio do PSDB à sua candidatura.
Uma dissidência do PT, liderada pelo deputado Rubens Otoni, também apoiou a candidatura de Demóstenes. O presidente anunciou que a BingoBrás será presidida por um ex-petista.
Abril de 2012: Quem conhece o tamanho do conto do vigário moralista de Fernando Collor e Jânio Quadros sabe que tudo o que está escrito aí em cima poderia ter acontecido.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Gmail - Entrada (3) - erivaldorama@gmail.com

Gmail - Entrada (3) - erivaldorama@gmail.com


Oito deserções de peso político registradas só nas três últimas semanas na maior seção nacional do PSDB no país, na de São Paulo, mostram que a crise do partido é maior do que indicam essas preliminares. Não há dúvidas de que há uma cisão e uma grande dissidência que podem se transformar numa debandada à esquerda. À esquerda, de pequena dimensão, já que sobraram poucos sociais-democratas no ninho tucano. Já em termos numéricos uma deserção maior, porque envolve serristas e descontentes de todo tipo. O que se vê é um PSDB paulista totalmente dominado pelas diferentes facções tucanas - as serristas e as alckmistas. Fora as ramificações de Aécio Neves em terras paulistas.Como pano de fundo, 2014.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O PODER VISTO DE FORA POR FHC



‘O PODER REVELA MUITO MAIS DO QUE CRIA OU DEFORMA’


O Brasil estreia no quesito mulher-presidente. Dilma exercerá o poder de maneira diferente se comparada a um homem? Como é estar no poder e depois não estar mais? Lula tem deixado claro que não está nada fácil adaptar-se à nova rotina. “É como se você estivesse dirigindo a 300 por hora, desse um cavalo de pau e, de repente, o carro parasse no meio da estrada”, declarou ele ao amigo Ricardo Kotscho semana passada. Depois de anos sem, como se diz em Brasília, tocar em uma maçaneta de porta, o ex-presidente volta agora para lugares e pessoas que já fizeram parte do seu dia a dia. Traz sua transformação pessoal para um ambiente onde, provavelmente, muito pouco mudou. Lula optou por não se afastar do País e tem tentado não interferir no governo da sucessora. O resultado deste esforço é parcial. Quando deixou o poder, Fernando Henrique Cardoso, acompanhado de dona Ruth, decidiu sumir do Brasil e escolheu a França para passar três meses. Ali se habituou novamente a comprar jornal, fazer café, andar nas ruas e pegar metrô. Mesmo assim, segundo admite, a passagem é complicada. FHC recebeu a coluna, na tarde de quarta-feira, para falar sobre poder na condição de ex-presidente e sociólogo. O poder corrompe ou revela o caráter de uma pessoa? Para o intelectual, ele “mais revela” do que transforma. Ou seja, para FHC, a ocasião NÃO faz o ladrão. Aqui vão os principais trechos da conversa.

Qual a diferença entre o poder exercido por uma mulher e por um homem?

Depende. Se a mulher sobe com esta característica, porque é mulher e lutou, é uma coisa. Se sobe porque lutou muito, competiu com outros homens e mulheres de igual para igual, é outra. Ela fica mais dura. No caso atual, a presidente Dilma nunca foi feminista, nunca se apresentou como tal. Nem é uma política. É uma técnica que subiu na base do jogo que aí está. Portanto, não sei se haverá diferença.

Mas ela é mulher. E mulheres são diferentes. O comando de Dilma terá qual componente feminino?

Vamos ver. Ela chegou lá pelas virtudes da profissão, da política, da coisa de tecnicalidade e não pelas características de personalidade. Então não sei se esse lado da mulher adjetiva vai florescer.

Para se ter poder é necessário, de fato, aparentar poder?

Em geral, sim, mas não necessariamente. Você às vezes tem que disfarçar o poder para exercê-lo. A tradição brasileira é muito mais de disfarçar do que de aparentar. As famosas coisas que Getúlio fazia, por exemplo: fingia que ia fazer algo e ia para um outro lado. Acho que, em geral, quem tem consciência do poder não vai exibi-lo. Ao exibir, abre o jogo e cria o contra corpo.

Lula exerceu o poder por meio da popularidade?

Ele parecia gostar da exterioridade do poder muito mais do que da eficácia de uma decisão. Gostava do aplauso. É uma forma de exercer o poder. Mas nunca vi no Lula um homem de Estado, um poder no sentido mais forte, daquele que tem visão, sabe que tem que alcançar seus objetivos e constrói o caminho. Ele construiu o poder para si mesmo.

O senhor acha que ele não tinha um projeto para o Brasil?

O que tinha, esqueceu no caminho. Adotou o que existia, não o que ele havia proposto. Até me pareceu interessante o Lula no Fórum Social no Senegal, que é o fórum contra a globalização. Ora, o Lula foi o presidente que mais ajudou o Brasil a se globalizar. Aderiu inteiramente. Eu não estou criticando por ele ter feito a adesão. Estou criticando a mudança, essa inconsistência. Ele não tinha um propósito. Este já havia sido dado pela sociedade. Ele assumiu aquilo e como que surfou na direção que a sociedade estava apontando. Não contrariou para mostrar que tinha um objetivo e a força de mudar algo em curso para chegar ao seu objetivo.

No mundo, as pessoas hoje pensam mais no poder do que em um projeto de Nação?

Vamos pegar o que aconteceu nos Estados Unidos no século 18. Bem ou mal, aqueles líderes definiram um caminho, criaram a declaração universal da democracia, a Constituição americana, adotaram as concepções de Montesquieu e por aí foram. Tinham uma visão de futuro e aquilo marcou tudo. Mesmo um tipo como Napoleão, que é o oposto da coisa americana. Aqui, José Bonifácio tinha essa percepção e sabia o que queria. D. Pedro II, se não tinha uma visão, alguma ideia ele tinha de que tinha que civilizar isso aqui. Eu acho que alguns presidentes brasileiros tiveram, como o Getúlio: você pode não concordar com a visão dele, mas ele tinha noção de Estado herdada dos positivistas, autoritária e tal. Alguns tiveram uma certa noção, desenharam o que era possível para o País, mesmo que não tivessem uma coisa tão fundamental como os grandes pensadores americanos.

Obama tinha um projeto quando se elegeu?

Não. O Obama tinha um discurso: “Sim, nós podemos”. Podemos o quê? Nesse aspecto, ele tem uma certa semelhança com o Lula, porque os dois simbolizavam alguma coisa. Não é que tivessem que ter uma proposta. Eles próprios já simbolizavam mais democratização: venho de baixo e chego lá, sou negro e chego lá. Aquele discurso admirável do Obama sobre racismo é uma coisa grandiosa. Mas não é um projeto de Nação. Ele também chegou lá e fez uma tentativa de melhorar o bem-estar da população com seu projeto de saúde. Conseguiu mais ou menos, não tudo que queria. E ficou perdido por isso, passou a ter que resolver os problemas deixados por outros. Ou seja, como enfrentar a crise do capitalismo com os instrumentos disponíveis? Daí por diante, inundou o mundo de dólares, salvou os bancos. Não creio que fosse projeto dele. Foi engolfado pela situação.

O senhor acha que Dilma assumiu o poder com um projeto?

Acho que não. Ela nunca falou à Nação sobre isso. Vai tocando no dia a dia. Qual é o projeto? O que está bem, que continue. Acabar com a pobreza, todos nós dissemos isso e todos nós fizemos um pouco nessa direção. Não só eu, antes de mim também o Itamar, o Sarney, os militares. Isso não é um projeto de Nação: é uma necessidade. Não podemos ter um País com esse grau de pobreza. Nesse momento em que ninguém pode mais ter um projeto desligado do mundo, visto que o grande problema hoje é ligado à globalização, não dá para você ter um caminho que não incida e sofra as consequências do mundo. Temos que discutir estratégias.

Em entrevista à Globo News, o senhor definiu o poder como duro, difícil e sofrido. Qual é o real poder de um presidente no Brasil?

É o de convencimento. Ele tem de convencer o País e o Congresso a ir num certo rumo. Caso contrário, as forças constituídas não mudam nada, ficam repetindo o que elas são. Para exercer de fato o poder no sentido pleno, ao exercê-lo, ele tem que mudar as coisas numa determinada direção. Fora disso, não consegue. A sociedade tem que cobrar mais. O que a sociedade quer? Se o presidente tiver visão das coisas, ele pode até capitanear a mudança, mas ela nunca é dada só pela vontade do presidente. Ela capota diante das instituições e da tradição do que está estabelecido.

Existe uma versão “criminalizadora” da política e do poder, sugerindo que pessoas boas entram na política e aí se tornam más e corruptas. Poder corrompe ou revela o caráter?

Mais revela. É claro que o poder absoluto dá mais chances aos mais fracos de ficarem maus. Veja, vamos falar português claro: uma pessoa que tem posição de mando (não precisa ser presidente) tem enormes possibilidades de enriquecer. Ele tem informações e pode usá-las. O que freia isso, o que inibe? É você mesmo. Quando você não o faz, é você mesmo que deixa de fazê-lo. Não é que o poder está impedindo. Então, acho que poder revela muito mais do que cria ou deforma. É claro que a permanência no poder deforma, porque essas chances vão se repetindo, repetindo… e aí chega um momento em que o risco de você incorrer em erro é maior.

Vou lembrar a frase de que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Antes de corromper, o poder não deslumbra?

A muita gente, sim. Vou falar em termos pessoais: eu nunca me deslumbrei.

Quem o conhece, diz que o senhor era uma pessoa antes de assumir o poder, a mesma pessoa durante e a mesma quando saiu. Mas dentro do senhor, o que mudou no exercício do poder?

Dentro muda. Você vê que as coisas são muito mais difíceis do que você pensava. Você vê que a ambição humana é muito maior do que imagina. Pessoas que são próximas, e você nunca vislumbrou a possibilidade de elas terem uma ambição desproporcional, pedem a você o que não devem pedir. O poder dá uma percepção talvez mais realista do ser humano.

Como isso mudou o senhor como pessoa?

Talvez endureça um pouco, porque você desconfia, a pessoa vai te procurar e você pensa: “O que será que ela quer?”. Em vez de partir do princípio de que não quer nada que seja negativo. Começa a ficar com um pé atrás, fica esperto, astuto para o mal que possa vir. Mal no sentido do inapropriado. A Ruth pesou muito também no meu estilo, porque era muito direta, muito simples, sempre teve horror de ostentação de poder e dessas coisas. Minha família não ficou deslumbrada. Até hoje, quem são os meus amigos mais próximos? São os da universidade, que eu já tinha antes. Com quem eu convivo? Com as pessoas que sempre convivi. É claro que acrescentei, mas nunca mudei de grupo, de camada, de círculo.

Quando o senhor saiu do poder, teve síndrome de abstinência?

Não, não tive. E tomamos uma resolução, Ruth e eu. Imediatamente saímos do Brasil. Por três meses ficamos na França e tomamos decisões claras: não vamos ter automóvel, segurança, assessores. Vinha um rapaz da embaixada brasileira uma ou duas vezes por semana trazer correspondência e conversar. Andei de metrô. Fiz isso logo para me dizer: não sou mais presidente. E passei a desfrutar das coisas que eu gosto. Ir a museus, comprar livros, comecei a me preparar para escrever um livro, via meus amigos, ia comer em restaurantes que eu gostava, ia ao teatro, andava a pé. Foi uma terapia de choque, digamos assim.

Como é o poder para o senhor hoje em dia?


Hoje não tenho poder nenhum. Posso ter é influência, que é uma outra coisa. É a capacidade de a partir do que você fala e faz, influenciar o comportamento de terceiros. Poder é quando você pode obrigar, eu decreto tal coisa e passa a valer. Você tem a capacidade de coagir o outro, pela lei no caso da democracia, mas mesmo a lei está baseada na força, tem autoridade.

O poder leva ao autoengano? Por exemplo, muita gente critica que o senhor deveria ter feito muito mais marketing dos coisas que conseguiu fazer durante seu governo, em lugar de esperar que a história lhe fizesse justiça.

É possível que o poder iluda. No caso do marketing, eu mesmo tinha muita resistência. Por outro lado, naquela época isso não seria tolerável, as finanças não eram tão favoráveis assim. A Bolsa Escola, por exemplo, foi a origem de todas as bolsas. Distribuímos 5 milhões de bolsas e eu não usei isso como se fosse dádiva.

O senhor achava que haveria um reconhecimento natural ao seu governo?

Eu não estava nem pensando nisso. Tinha uma dúvida profunda: não sei se estou constituindo um começo ou um interregno. Eu dizia isso: essas coisas que nós estamos fazendo, eu não sei se é o começo de uma mudança ou se é um momento que depois vai regredir. Vendo hoje, algumas coisas foram um começo, a estabilidade foi uma delas, assim como a área social. Outras foram um interregno, como a concepção de secularizar mais a política e não ficar nessa coisa patrimonialista.

Mas e o marketing?

Nunca tive a preocupação de fazer propaganda em termos pessoais, realmente não pensei. Alguém me perguntou como vou ser visto daqui a 100 anos. Será que eu serei visto? E se eu for bem-visto, estarei morto. De que adianta? (risos) E tem o seguinte: a História modifica o julgamento. Dependendo de cada momento da História, você é bom ou é mau, isso vai variando. Se você fez alguma coisa que mereça ser vista por ela, ótimo. Mas isso não quer dizer que sua posição está assegurada, porque alguns vão dizer que foi bom e outros que foi mau. Depois muda a geração, o que era bom virou mau, o que era mau virou bom. Isso é muito comum, não só no poder. Eu estava lendo hoje numa revista: “Baudelaire não conheceu a glória quando vivo”. Pode ser. Mas de que adianta conhecer a glória morto?

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um vídeo histórico sobre os erros cambiais de FHC



Um vídeo histórico sobre os erros cambiais de FHC
Enviado por luisnassif, sab, 05/02/2011 - 09:19
Do Blog Amigos do Presidente Lula

Com exclusividade, nosso blog resgatou de arquivos internacionais, um vídeo de 1999, com o então presidente Fernando Henrique Cardoso em Florença (Itália) no encontro de governantes dos países ricos da chamada terceira via. Nossa edição tem um compacto com os "melhores momentos", ou seja, os mais relevantes.

Comentário

O vídeo é prejudicado um pouco pelo excesso de legendas explicativas. Mas é histórico, sim.

Nele, se comprova algo óbvio, que já foi objeto de análise de minhas colunas desde os anos 90: o fato do Brasil de FHC ter sido vítima de cinco crises internacionais não é atenuante, é agravante. Todas as crises foram motivadas pela vulnerabilidade externa brasileira - e esta agravada pela política cambial, privilegiando a apreciação cambial e o livre fluxo de capitais.

Não se tratou de um mero erro reiterado, mas de uma estratégia para fortalecimento dos grupos financeiros criados nos anos 80 e para enriquecimento pessoal dos economistas envolvidos com o Real - conforme relatei em meu livro "Os Cabeças de Planilha".

O que Clinton diz claramente é que países que se prepararam - incluindo o Chile - não sofreram os efeitos devastadores das crises. O Brasil não se preparou e, agora (no evento) FHC propunha uma taxa Tobin para coibir capitais especulativos, mas que não passava de uma tentativa de transferir as responsabilidades de seus erros para os demais países resolverem.


Mais Comentario

Há uma frase do filosofo Nietzsche que diz : “Somente depois de teres deixado a cidade,verás a que altura suas torres se elevam acima das casas”. Pois bem quanto mais nos distanciamos da historia (do governo FHC) mais vamos ficamos com a certeza de que o governo foi um FHC desastre.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

ESTADISTA DO PUXADINHO



No debate da “Band”, Dilma defendeu o programa “Minha Casa, Minha Vida”. Serra rebateu, disse que quando foi Ministro do Planejamento também investiu em Habitação: ajudou os brasileiros a construir “todos esses puxadinhos”. Sabe como é: pobre não precisa de casa, precisa de “puxadinho”!

"Homem-bomba" do PSDB é nova arma de Dilma em campanha

São Paulo - No final do primeiro bloco do debate na Rede Bandeirantes, Dilma Rousseff (PT), cobrou de José Serra (PSDB) esclarecimentos sobre Paulo Vieira de Souza, ex-membro do governo tucano em São Paulo que, segundo a petista, "fugiu com R$ 4 milhões de sua campanha". Na plateia, o questionamento deixou os petistas efusivos. Integrantes do PSDB, preocupados com o cerco da imprensa a partir deste instante, prepararam uma saída à francesa do senador eleito Aloysio Nunes, que mantinha relações estreitas com Vieira de Souza. Minutos depois, o senador eleito deixou o estúdio e não retornou.

Mais conhecido como Paulo Preto, Paulo Vieira de Souza foi diretor de engenharia da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa). Ele era o responsável direto por grande parte das obras viárias do governo de São Paulo. Chamado de "homem-bomba do PSDB", em matéria da revista Veja, publicada em maio deste ano, Paulo Preto foi demitido oito dias depois de ter inaugurado o trecho sul do Rodoanel. Quando Aloysio Nunes deixou o debate, depois do questionamento sobre Paulo Preto, o correligionário Cícero Lucena ocupou o seu lugar na plateia.
Foto: Cacalos Garrastazu/ObritoNewsSerra e Dilma em debate na Bandeirantes. Foto: Cacalos Garrastazu/ObritoNews

No instante da acusação, Serra olhou para assessores, o marqueteiro Luiz Gonzalez e o estrategista Felipe Soutello. Tempo encerrado. Nos bastidores, a denúncia agitou a plateia e as conversas de pé-de-ouvido. "Ele está desnorteado. Isso, no boxe, é nocaute", mordiscou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT). Mais abaixo, o coordenador de comunicação de Dilma, o deputado estadual Rui Falcão, informava: "A imprensa já noticiou: ele era diretor da Dersa e fugiu com quatro milhões". Dinheiro que, segundo a pergunta-acusação de Dilma no debate, teria sido arrecadado para campanha tucana.

"Serra deve ter levado um susto", comemorou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. "A Dilma colocou o tema do Paulo Preto na campanha. Foi colocado e não houve qualquer reação. Está na pauta das discussões dos próximos dias", avaliou Edinho Silva, presidente do PT paulista.

Ainda segundo a matéria da revista Veja, "Vieira de Souza e Aloysio se conhecem há mais de 20 anos. Quando, no ano passado, o tucano sonhou em ser o candidato de seu partido ao governo de São Paulo, Vieira de Souza foi apresentado como seu 'interlocutor' junto ao empresariado. A proximidade entre os dois é tão grande que a família dele contribuiu para que o ex-secretário comprasse seu apartamento".

Em agosto, a revista ISTO É publicou uma matéria de capa, segundo a qual líderes do PSDB acusam Paulo Preto "de ter arrecadado dinheiro de empresários em nome do partido e não entregá-lo para o caixa da campanha". A publicação traz também uma declaração de um diretor de uma das empreiteiras responsáveis por obras de remoção de terras no eixo sul do Rodoanel: "não fizemos nenhuma doação irregular, mas o engenheiro Paulo foi apresentado como o 'interlocutor' do Aloysio junto aos empresários".

À saída do debate na TV Bandeirantes, os petistas questionavam a falta de resposta do tucano à acusação feita por Dilma com base na denúncia da revista ISTO É. O deputado Jutahy Magalhães Jr., diz "desconhecer completamente a história" e acrescenta que o comportamento mais ofensivo da ex-ministra flagra "a preocupação com os números". A afirmação é referente às pesquisas eleitorais. Segundo o último Datafolha - publicado no sábado (9) - Dilma tem 54% dos votos válidos, contra 46% de Serra.

O candidato tucano e sua equipe avaliaram que a estratégia da petista era conclamar sua militância. "Ela falou para dentro do partido", avaliou o jornalista Luiz Gonzalez, coordenador de marketing da campanha. Para Serra, a petista se comportou de forma atípica para poder usar as imagens em seu programa de televisão. O marqueteiro da petista, João Santana Filho, sorriu com a declaração.

O deputado eleito Sérgio Guerra (PSDB-PE) provocou: "esta foi a primeira intervenção de Ciro Gomes (PSB) na campanha". O socialista é integrante novo na campanha de Dilma e, segundo aliados, entrou para "bater". Para o governador de São Paulo, Alberto Goldman, a petista fez afirmações "estapafúrdias": "eu nunca vi em 40 anos um suicídio desta forma que ela está fazendo". E completou: "ela está totalmente perdida".

Tucanos e petistas monitoraram, durante o debate, a reação de grupos focais espalhados pelas regiões brasileiras. Nas pesquisas do PT, houve aprovação da linha de ataques assumida por Dilma, o que justificou a manutenção dos ataques a Serra em todos os blocos do debate. Nas qualitativas tucanas, a petista aparecia como "agressiva" e "raivosa".

Ainda em relação às análises particulares, o coordenador jurídico da campanha, José Eduardo Cardozo, opinou: "no confronto frente a frente, a linha vai ser essa".

Os tucanos usam o exemplo deixado por Geraldo Alckmin em 2006 contra Lula, então candidato à reeleição. O primeiro confronto entre os dois, já no segundo turno, foi marcado por ataques mútuos. O tucano, diferente do que fizera no primeiro turno, resolveu subir o tom contra o petista. À época, o PSDB avaliou que esta mudança de comportamento foi o que rendeu uma vitória ainda mais folgada a Lula.

domingo, 29 de agosto de 2010

Na quebra do sigilo, faltou Arnaldo Madeira

Da Folha

JANIO DE FREITAS

Sob o tráfico de sigilos

O caso das quatro pessoas ligadas a Serra presta-se à exploração eleitoral; mas o caso verdadeiro é de milhões

É GRANDE A possibilidade de que você esteja com seus dados confidenciais à disposição de qualquer um. Ou já em mãos de quem você nem imagina existir, mas que tanto pode desinteressar-se de usar os seus dados, como pode dar-lhes as mais diferentes utilidades. E nisso não estão apenas os seus dados entregues ao mal denominado sigilo da Receita Federal.

Os fatos já conhecidos são alarmantes, na transformação da "confidencialidade oficial" em instrumento de crime lucrativo, fácil e sem limites. Por uma quadrilha enorme, com ramificações já antigas em diversos setores da administração pública, ou por várias quadrilhas com ação paralela -não se sabe, e talvez não se venha a saber.

Por isso, o caso dos sigilos de quatro pessoas ligadas a José Serra é muito mais complexo do que as acusações feitas pelo próprio Serra e pelo PSDB. Além disso, deixa distante da realidade a posição manifestada a respeito pela Receita Federal, mesmo admitindo finalidade comercial na quebra dos sigilos. O problema é muito maior.

Os quatro nomes figuram entre duas centenas de sigilos cuja quebra está revelada com as identidades das vítimas. Duas primeiras indicações graves: as quebras não se limitam aos quatro com ligações políticas, estendendo-se por centenas e incluindo grande empresário, e a precisa escolha dos quatro.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, posto por Serra na presidência do BNDES e depois, já como ministro das Comunicações no mesmo governo Fernando Henrique, descoberto pela repórter Elvira Lobato em viagem sigilosa à Espanha para encontro com dirigentes da Telefónica espanhola, tida como beneficiária das artimanhas na privatização das telecomunicações. Ricardo Sérgio de Oliveira, à época diretor do Banco do Brasil, tesoureiro de campanhas de Fernando Henrique e Serra, foi parte destacada na manobra que impediu a Votorantim de adquirir a Vale do Rio Doce e dirigiu-a para Benjamin Steinbruch e outros.

Eduardo Jorge Caldas Pereira, secretário da Presidência no mesmo governo, é ligado a Joaquim Roriz, licenciou-se do Planalto para ajudá-lo em sua última eleição para governador do Distrito Federal, e foi o intermediário da participação de Fernando Henrique naquela campanha do hoje declarado "ficha suja". Gregório Marin Preciado, contraparente de Serra, esteve presente no noticiário quando revelada a sociedade de ambos em um imóvel.

A quebra não incluiu pessoas como José Gregori, Arnaldo Madeira ou algum dos outros peessedebistas atingidos por suspeitas e inquéritos. A escolha foi precisa. Com ou sem venda, seu fim político é a hipótese mais lógica. A escolha e a quebra, porém, tinham possibilidade dupla de destinação. Para o PT, como resposta a citações do mensalão e dos "aloprados". Para a campanha de Serra e o PSDB, a utilidade de atribuir ao PT mais uma "trapalhada criminosa", agora sob a responsabilidade da suposta beneficiada Dilma.

Nada recomenda que uma das duas linhas possíveis seja abandonada antes de investigação séria e correta. E para lá de improvável.

A conclusão da Receita no sentido de venda do sigilo é certa. A negação de fins políticos, não.

Tudo isso é muito grave, sem dúvida. Mas eis o que se pôde ler em um texto do "Globo" de quarta-feira passada: (...) "adquiriu por R$ 95 outro CD com informações de mais de seis milhões de contribuintes da Receita Federal", de "São Paulo, Rio, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas e Espírito Santo."

"Adquiriu" e "outro CD" porque o repórter Lino Rodrigues já comprara dois, por R$ 200, "com dados completos de aposentados da Previdência Social (...) e do Denatran contendo informações de milhares de proprietários de veículos em todo o país". Além dos setores mencionados, há referência ao Serpro, o serviço de processamento de dados oficiais, e à oferta de outros CDs, entre eles o dos correntistas de um dos maiores bancos. A segunda compra foi feita para comprovar que, depois da primeira publicação, "o comércio de dados pessoais sigilosos continua livremente no Centro de São Paulo". A zona franca da quebra de sigilo é a rua Santa Efigênia. Com as adjacências. Negócio ali ativo, segundo a indicação biográfica de um dos expoentes do ramo, há mais de dez anos.

O caso dos quatro presta-se muito bem à exploração eleitoral. Mas o caso verdadeiro é de milhões, que nem se supõem quantos milhões são. Como não se sabe a que está sujeita cada pessoa que integra esses incontáveis milhões de devassados pelo tráfico de sigilos.